TER, 12 DE JUNHO DE 2012 01:43 TATIANA ROCHA
Com cientistas pesquisando um tratamento antivírus que combata todos eles e uma vacina universal contra a gripe, a erradicação de doenças infecciosas certamente parece ser o objetivo da investigação médica. Mas e se isso realmente acontecer?
O epidemiologista Nim Arinaminpathy, de Princeton, questiona: “Se tivéssemos uma pílula mágica que nos livrasse de todas as doenças infecciosas, nós realmente deveríamos usá-la?” Ele não tem certeza. Purificar a humanidade de doenças infecciosas poderia não ser algo tão positivo, mas também não provocaria a queda imediata do ser humano.
Primeiro, considere aquilo o que nós estaríamos abrindo mão. “Nossa história evolutiva tem sido uma constante corrida armamentista contra os agentes patogênicos que nos afligem”, diz Vincent Racaniello, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Columbia. Por milênios, esta batalha eliminou os mais fracos.
Para Racaniello, em grande parte do Ocidente, as pessoas já são espécies de animais artificiais.
“Nós temos muitas formas de intervir quando as pessoas ficam doentes, sendo que, de outra maneira, teriam morrido. Gostaríamos de ver alguma seleção natural frente às pessoas com sistemas imunológicos mais robustos. Porém, enquanto os médicos continuarem criando formas de nos tornarem mais dispostos a lutar contra essas doenças que costumavam nos matar, a imunidade natural não será essencial”, comenta o pesquisador.
De fato, muitas doenças poderiam ser erradicadas do mundo sem qualquer perda de robustez evolutiva, pois um patógeno só pode afetar o DNA humano se tende a matar pessoas antes de terem filhos. Caso contrário, as vítimas já passaram seus genes para a próxima geração, independentemente de tais genes serem suscetíveis ao patógeno ou não.
A malária tem como alvo os jovens. Portanto, molda a evolução das pessoas em muitos países tropicais, matando crianças com fracas defesas imunitárias. A malária foi praticamente erradicada nos Estados Unidos, sem desvantagens óbvias. Se o mesmo acontecesse na África e outras regiões atingidas, “o impacto de reduzir ou eliminar a malária seria uma questão além da saúde pública”.
Uma população saudável
O parasita da malária é de tal forma galopante na África que muitas crianças sofrem mais e mais, em um ciclo quase contínuo. “Você não pode pensar claramente e se sente terrível, te impedindo de ir à escola ou ter uma vida produtiva”, diz Racaniello. Enquanto isso, o HIV está se espalhando descontroladamente na África sub-saariana.
“Se você se livrar de doenças infecciosas por vacinação, pode contribuir para tirar as pessoas da pobreza, para que elas possam ter uma vida produtiva. E embora eliminar essas pragas tropicais possa significar um crescimento da população em áreas que já estão experimentando taxas de natalidade além do suportado e crises alimentares, os problemas socioeconômicos seriam muito mais dóceis em uma sociedade livre de doenças. Se esses indivíduos tiverem carreiras produtivas, talvez possam surgir com soluções”, diz o pesquisador.
Estas considerações sugerem que a erradicação de doenças infecciosas beneficiaria a humanidade. Mas existe uma grande questão.
Resfriados benéficos?
Será que ficar resfriado ou gripado regularmente quando somos jovens nos ajuda mais tarde? Os cientistas não têm certeza, porque eles não tiveram a oportunidade de estudar um vírus livre da população humana, como acontece com as bactérias e os parasitas que atacam populações no Ocidente.
“Estamos começando a aprender que a consequência de antibióticos é que você se livra das boas bactérias de nossos intestinos, por isso podemos desenvolver doenças autoimunes, tais como alergias. Nós não estamos tão avançados em nossa compreensão do vírus. O que pode fazer o vírus por nós? Nós podemos viver com alergias, mas alguns dos vírus benignos que pegam carona em nossos corpos poderiam ter um papel muito mais profundo”, conclui Arinaminpathy.
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